terça-feira, 18 de agosto de 2009

A Mulher é rara!


Este texto é uma dita "Conferência imaginária" de Louis Pauwels, extraído do livro "Tantra, o culto da Feminilidade" de André Van Lysebeth. Palavras e nomes de impacto. Observe:


"O Problema é que não há mais mulheres. Sustento que as mulheres desapareceram, que houve uma catástrofe, que a raça das mulheres foi dispersa e aniquilada sob os nossos próprios olhos, que não puderam ver. Senhores, a mulher, a descendente do paleolítico e do neolítico, nossa fêmea e nossa Deusa, o ser que eu chamaria de mulher do homem e que já não sabemos como é, foi perseguida, atingida em seu corpo físico e mental, e devolvida ao nada.

As entranhas da Terra estão plenas de florestas tragadas, de restos de espécies animais desaparecidas, de cinzas de raças humanas e sobre-humanas, cuja história, se nos fosse revelada, desafiaria a mais louca imaginação. Nossa verdadeira fêmea, ela também, misturou-se ao húmus dos abismos subterrâneos. Por quê? Ah, senhores, reflitam. Foi ela quem arcou com os custos da imensa, da implacável luta contra as religiões primitivas do Ocidente. Essa luta é toda a história do mundo dito civilizado. Os senhores acreditam que nos lugares onde as legiões romanas nunca conseguiram adaptar sua religião – por ex., na Gália e na Grã-Bretanha-, os soldados de Cristo encontraram uma terra inculta e sem deuses? Em inúmeros lugares da velha Europa, nas landes, nas planícies de menires, no fundo do mato e nas margens dos rios onde Pã cantava, sobrevivia a religião nativa, oriunda da noite dos tempos, a verdadeira religião do homem ocidental. Semnhores, estou certo de que a Europa viveu, durante milênios, de um elevado pensamento místico, ele mesmo oriundo de outras eras, consagrado ao Deus Cornudo e à exaltação do princípio feminino. É evidente que essa espiritualidade original foi afogada com violência, no fogo e no sangue, por uma religião estrangeira, vinda do Oriente: o cristianismo. O Deus Cornudo, protetor da antiga humanidade do oeste, foi chamado de diabo e amaldiçoado.

Os ídolos imemoriais foram derrubados e foi preciso destruir, junto com eles, seu suporte: a mulher-mãe, a mulher-deusa, a mulher-fêmea, a verdadeira mulher.

As pessoas cultas denunciam hoje as atrocidades do colonialismo recente: os indígenas aniquilados, feiticeiros africanos extintos, civilizações negras martirizadas. Mas não falam de nossos antigos totens que foram derrubados! De nosso Deus que foi aviltado e perseguido! De nossas sacerdotisas, que foram exterminadas! De nossa mulher que nos foi subtraída! A velha Europa também foi colonizada e desfigurada. Sim, senhores, ouso dizê-lo. Do ponto de vista puramente antropológico em que me situo, a história da igreja cristã é a história de uma guerra empreendida pelo estrangeiro contra um culto nativo muito antigo, muito poderoso, muito profundamente arraigado e de um crime bem sucedido contra toda a raça humana fêmea. Nós perdemos nossa metade, senhores. Como demonstrarei, ela foi morta.
Não acuso. Talvez ese crime fabuloso fosse necessário. E talvez fosse inevitável. A civilização não seria o que é se a verdadeira mulher ainda existisse. Nós continuaríamos a crer no Paraíso terrestre. O espírito humano não teria tomado novos rumos. Não estaríamos hoje a ponto de atingir as longínquas galáxias. Mas examinemos esse crime. Extermínio físico em fogueiras: evocarei as centenas de milhares de verdadeiras mulheres, chamadas de bruxas e queimadas como tais, e os outros milhões de mulheres vencidas e transformadas pelo medo. Eu os remeto a Jules Michelet, visionário de La Sorcière, livro admirável e incompreendido. Extermínio pela propaganda, arma mais certeira do que todas as outras. Guerra revolucionária empreendida pela Cavalaria contra a mulher verdadeira, a favor de um novo ídolo. E, enfim, num plano mais amplo, mais misterioso e concomitante, mutação decadente da espécie. De tal forma que, pouco a pouco, o ser fêmeo autêntico foi substituído por um ser diferente.

Senhores, o ser que chamamos de mulher não é a mulher. É uma degenerescência, uma cópia. A essência não está aí, o princípio não está aí, nossa alegria e nossa salvação não estão aí.

...Chamamos de mulheres seres que dela não tem senão a aparência, tomamos em nossos braços imitações de uma espécie inteiramente ou quase destruída.

A mulher é rara, disse Giraudoux. Ao desposarem uma medíocre falsificação dos homens, um pouco mais artificiosa, um pouco mais maleável, a maioria dos homens desposa a si mesma. É a si mesmos que eles vêm passar pela rua, com um pouco mais de colo, um pouco mais de quadris, o todo envolvido em seda; é a si mesmos que eles perseguem, abraçam e desposam. Afinal, é menos frio do que desposar um espelho. A mulher é rara, ela transpõe as enchentes, derruba os tronos, ela detém os anos. Sua pele é o mármore. Quando há uma Ela é o impasse do mundo... Para onde vão os rios, as nuvens, os pássaros isolados? Se lançar na Mulher... Mas ela é rara... Deve se evitá-la quando a vemos, porque se ela ama, se ela detesta, ela é implacável... Mas ela é rara.

A verdadeira mulher, aquela que vem a nós do fundo das eras, a mulher que nos foi dada, pertence inteiramente a um Universo estranho ao homem. Ela cintila no outro lado da Criação. Ela conhece o segredo das águas, das pedras, das plantas e dos animais. Ela fixa o Sol e vê claro na noite. Ela possui as chaves da saúde, do descanso, das harmonias da matéria. É a feiticeira branca entrevistada por Michelet, a fada de largos flancos úmidos e olhos transparentes, que espera pelo homem para reconstituir o paraíso terrestre. Se ela se der a ele, será num movimento de pânico sagrado, abrindo para ele, na quente obscuridade de seu ventre, a porta para o outro mundo. Ela é a fonte de virtude: o desejo que ela inspira consome a excitação. Mergulhar nela devolve a castidade. Ela é estéril, pois detém a roda do tempo. Ou melhor, é ela que semeia o homem: volta a pari-lo, nele reintroduz a infância do mundo. Ela o devolve ao seu trabalho de homem, que é elevar-se o máximo possível acima de si mesmo. Dizem super-homem, não dizem super-mulher, porque a mulher, a verdadeira, é aquela que faz o homem mais do que ele é. A ela, basta-lhe existir para ser, plenamente. O homem deve passar por ela para passar ao ser, ao menos que escolha outras asceses, onde ainda voltará a encontrá-la sob formas simbólicas.

Senhores, descobrir a verdadeira mulher é uma graça. Não ficar assustado, outra. Unir-se a ela requer a benevolência de Deus... Que estranho encontro! Ela aparece bruscamente no rebanho das falsas mulheres, e o homem favorecido que a vê se põe a tremer de desejo e de temor."

“Tudo vai mudar, chega de jogar;

Vejo teus seios desabrocharem

E às vezes teu ventre fremir

Como um sol quente que se ergue,

Tu me aquietas e eu me admiro

Com esses poderes que deténs...”

2 comentários:

Unknown disse...

és tu, ó deusa, que fazes as flores florescerem...

om namah shaktya

Anônimo disse...

isis